quinta-feira, 21 de março de 2013

POSSESSOS


POSSESSOS
Estudo com base in O Livro dos Espíritos, Cap. IX, Intervenção dos Espíritos no Mundo Corpóreo, questões 473 e 474, obra codificada por Allan Kardec.
Pesquisa: Elio Mollo


Sobre a possessão respondem os Espíritos à Allan Kardec (1) que “O Espírito não entra num corpo como entras numa casa; ele se assimila a um Espírito encarnado que tem os seus mesmos defeitos e as suas mesmas qualidades, para agir conjuntamente; mas é sempre o Espírito encarnado que age como quer sobre a matéria de que está revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que se acha encarnado, porque o Espírito e o corpo estão ligados até o tempo marcado para o termo da existência material.” 

No caso de haver uma coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, a alma pode encontrar-se na dependência de um outro Espírito, de maneira a se ver por ele subjugada ou obsedada, ao ponto de ter a sua vontade, de alguma forma, paralisada, e são esses os verdadeiros possessos, mas essa dominação não se efetua jamais sem a participação daquele que sofre, seja por fraqueza, seja pelo seu desejo. Frequentemente se têm tomado por possessos criaturas epilépticas ou loucas, que mais necessitavam de médico do que de exorcismo. (2)

Em O Livro dos Médiuns, segunda parte, cap. XXIII, Kardec assim se expressou em relação a possessão: “não existem possessos, no sentido vulgar do termo, mas apenas obsedados, subjugados e fascinados”.

Na Revista Espirita de outubro de 1858 (3) Allan Kardec escreveu sobre a possessão: “Para nós, a possessão seria um sinônimo de subjugação. Se não adotamos esse termo, foi por dois motivos: primeiro, porque implica a crença em seres criados e votados perpetuamente ao mal, enquanto apenas existem seres mais ou menos imperfeitos e todos podem melhorar; segundo, porque pressupõe igualmente a ideia de tomada de posse do corpo por um Espírito estranho, uma espécie de coabitação, quando só há constrangimento.”

Mas não demoraria muito tempo, foi, também, na Revista Espirita de dezembro de 1863, Um Caso de possessão (Senhorita Julia) (4), quando narrou o caso da sonâmbula Sra. A, que de repente mudou de voz tomando atitudes absolutamente masculinas,  isso fez com que Kardec muda-se de opinião em relação a possessão, levando-o, logo no primeiro parágrafo desse artigo a escrever de maneira contundente o seguinte:

“Temos dito que não havia possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta, porque agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um encarnado.”

Vale lembrar o que diz o codificador da Doutrina Espírita no livro A Gênese conforme o Espiritismo, cap. I. item 14: “...o Espiritismo é uma Ciência de observação e não o produto da imaginação.” E ainda nesse mesmo capítulo no item 55: “O Espiritismo, marchando com o progresso, não será nunca extravasado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro sobre um ponto ele se reformulará sobre este ponto; se uma nova verdade se revela, ela a aceita.” (4)

Sendo assim, agora podemos continuar observando a descrição que faz sobre o caso da Revista Espírita tratado acima: Apoderando-se do corpo da sra. A..., não tinha qualquer intenção má; assim aquela senhora nada sofria com a situação, a que se prestava de boa vontade. É bom dizer que ela não o havia conhecido e não podia saber de suas maneiras. É ainda de notar que os assistentes nele não pensavam, a cena não foi provocada e ele veio espontaneamente.

Aqui a possessão é evidente e ressalta ainda melhor dos detalhes, que seria longo enumerar. Mas é uma possessão inocente e sem inconvenientes.” (O grifo é nosso.)

A partir daí, o codificador, passa a incluir a possessão nos processos mediúnicos (no caso dos bons Espíritos) e de curas (no caso dos Espíritos inferiores ainda voltados ao mal): “Não vendo senão o efeito, e não remontando à causa, eis por que todos os obsedados, subjugados e possessos passam por loucos desta natureza e que seriam facilmente curados se não obstinassem a neles ver apenas uma doença orgânica.” (O grifo é nosso.)

Nesse mesmo artigo Kardec relata um outro exemplo observado pessoalmente por ele e que foi objeto de um estudo sério na Sociedade Espírita de Paris. Foi o caso da senhorita Julia, uma doméstica nascida na Savole, com vinte e três anos de idade, que a seis meses vinha tendo crises de um caráter estranho e que ocorriam sempre no estado sonambúlico. Lutava com um espírito que acaba sempre vencendo e que o denominava de Fredegunda: “Toma! toma! é bastante, infame Fredegunda? Queres me sufocar, mas não o conseguirás; queres meter-te em minha caixa, mas eu te expulsarei.”

Neste caso de possessão, porque se percebeu ter chegado o momento necessário de lidar com o Espírito possessor, Fredegunda, através da evocação. Evocada, em princípio, com ideia fixa de reencarnar-se, repeliu a solidariedade que lhe foi oferecida, recuou ante o nome de Deus, por isso, teve dificuldade de elevar o pensamento e orar, mas no intervalo das evocações em que foi chamada por vários dias pelos que estavam encarregados de a instruir, houve um fato positivo, é que conforme o Espírito Fredegunda foi sendo orientado, a Senhorita Julia, consequentemente, foi deixando de ser molestada até que a possessão cessou por completo. (6)

Em se tratando da possessão escreve Kardec no livro A Gênese (7): “Na possessão, em lugar de agir exteriormente, o Espírito livre se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado; faz eleição de domicílio em seu corpo sem que, contudo este o deixe definitivamente, o que não pode ter lugar senão com a morte. A possessão é, pois, sempre temporária e intermitente porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar e dignidade de um Espírito encarnado, ...”.

Mostrando a diferença entre obsessão e possessão ele escreve in A Gênese (8): “A obsessão é sempre uma ocorrência de um Espírito malfeitor. A possessão pode ser a atuação de um bom Espírito que quer falar e, para causar maior impressão em seu ouvinte, toma emprestado o corpo de um encarnado que este lhe empresta voluntariamente como se emprestasse sua veste. Isso se faz sem nenhuma perturbação nem mal estar, e durante este tempo o Espírito se encontra em liberdade como no estado de emancipação, e, mais frequentemente ele se coloca ao lado de seu reintegrante para escutá-lo.” Em continuação diz ele: Quando o Espírito possessor é mau, as coisas se passam diferentemente; ele não toma emprestado o corpo; ele se apodera, se o titular não possuir uma força moral para lhe resistir.”

Concluindo este estudo deixamos aqui estas palavras de Kardec (9): “O Espiritismo, fazendo conhecer esta fonte de uma parte das misérias humanas, indica o meio de remediá-las; este meio é o de atuar sobre o autor do mal que, sendo um ser inteligente, deve ser tratado com inteligência.”

NOTAS:

(1) Resposta à pergunta 473 de O Livro dos Espíritos (Allan Kardec).

(2) Resposta à pergunta 474 de O Livro dos Espíritos (Allan Kardec).

(3) Ver Allan Kardec, Revista Espírita, outubro de 1858, Obsedados e Subjugados.

(4) Ver Allan Kardec, Revista Espírita, dezembro de 1863 e janeiro de 1864, Um Caso de possessão (Senhorita Julia)

(5) Ver Allan Kardec, A Gênese, cap. I, Caracteres da Revelação Espírita.

(6) Ver Allan Kardec, Revista Espírita, janeiro de 1864, Palestras de Além-Túmulo - Fredegunda http://www.aeradoespirito.net/RevistaEspHTML/UM_CASO_POSSESSAO.html

(7) Ver Allan Kardec, A Gênese, cap. XIV, Os Fluidos, Explicação de alguns fatos reputados como sobrenaturais, item 47.

(8) Ver Allan Kardec, A Gênese, cap. XIV, Os Fluidos, Explicação de alguns fatos reputados como sobrenaturais, item 48.

(9) Ver Allan Kardec, A Gênese, cap. XIV, Os Fluidos, Explicação de alguns fatos reputados como sobrenaturais, item 48.

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