segunda-feira, 29 de outubro de 2012

MANIFESTAÇÕES VISUAIS

  
MANIFESTAÇÕES VISUAIS
Estudo com base in O Livro dos Médiuns, cap. VI, itens de 101 à 109
e A Gênese, cap. XIV, itens 36, 37 e 38.
Pesquisa: Elio Mollo e ClaudiaC


SOBRE AS APARIÇÕES - ENSAIO TEÓRICO

Longe de considerarmos esta tese como absoluta ou como sendo a última palavra, pois sem dúvida poderá ser complementada ou retificada através de novos estudos. Porém, podemos adiantar que o perispírito é o princípio de todas as manifestações espíritas. O conhecimento desse instrumento semimaterial pode oferecer a chave de inúmeros fenômenos no que se refere à ação dos Espíritos sobre a matéria - movimentação dos corpos inertes, dos ruídos e das aparições -, permitindo grande avanço no conhecimento espírita.

O mundo espiritual e o mundo material interagem incessantemente um sobre o outro, donde podemos dizer que um mundo oculto nos envolve constantemente. É o meio no qual vivemos sem o perceber, como vivemos entre as miríades de seres do mundo microscópico. Assim como a revelação do mundo dos infinitamente pequenos, de que não suspeitávamos, foi feita pelo microscópio, o Espiritismo através do estudo do fluido universal e do perispírito nos oferece a oportunidade de conhecermos como se faz essa interação entre esses dois mundos, ou seja, da ação de um Espírito sobre o mundo físico ou de um encarnado sobre o mundo espiritual.

Trataremos aqui, mais especialmente, da ação dos Espíritos sobre os fluidos e neste caso sobre as aparições. 

As aparições propriamente ditas ocorrem na vigília em plena consciência de suas relações com o mundo físico, ou seja, no pleno desfrute e da completa liberdade das faculdades das pessoas. As visões geralmente dão-se em estado de sono ou quando resulta da suspensão momentânea das faculdades perceptíveis e sensitiva dos órgãos físicos, também conhecido como enlevo, arroubos ou êxtase, onde a independência da alma se manifesta de maneira bastante sensível. 

As aparições, geralmente se mostram com uma forma extremamente tênue, transparente, outras vezes com formas que poderíamos denominar de hesitantes ou de fraco vigor. A princípio pode surgir como um clarão esbranquiçado, onde gradualmente os contornos vão se mostrando. Outras vezes as formas são bem acentuadas, mostrando os traços de um rosto, podendo-se descrevê-las com precisão, ou melhor, o aspecto se mostra semelhante a de um Espírito encarnado.

O Espírito pode tomar a aparência que desejar, e se apresenta geralmente com aquela que melhor o identifique. Desta forma, embora como Espírito não tenha nenhum defeito corporal, ele pode se mostrar como um estropiado, coxo, corcunda, ferido, com cicatrizes, se isso for necessário para identificá-lo.

Exceto em circunstâncias especiais, geralmente, as partes que se mostram menos precisas nas aparições são os membros inferiores, enquanto a cabeça, o tronco, os braços e as mãos aparecem nitidamente. Por isso, quase sempre são vistos sem andar, mas como a deslizar igual as sombras. As vestes, normalmente, se constituem como se fossem longas pregas a flutuar acrescentadas por uma cabeleira ondulante e graciosa, estas são as características da aparência dos espíritos que já se desapegaram da vida terrena. Os Espíritos comuns, das pessoas que conhecemos se mostram, geralmente, com as vestes como o faziam nos últimos dias de sua existência.

Os Espíritos podem se apresentar com símbolos da sua elevação, como uma auréola ou asas, pelo que são considerados anjos. Alguns carregam instrumentos que lembram suas atividades terrenas: assim um guerreiro poderá aparecer com uma armadura, um sábio com seus livros, um assassino com seu punhal, e assim por diante.

Os Espíritos superiores apresentam uma figura bela, nobre e serena. Os mais inferiores têm algo de feroz e bestial, e algumas vezes ainda trazem os vestígios dos crimes que cometeram ou dos suplícios que sofreram. 

Há inúmeros modos de um Espírito se apresentar, em alguns casos poderíamos compará-la à imagem refletida num espelho sem aço (1), que apesar de nítida, deixa aparecer através dela os objetos que estão por detrás (ver a figura abaixo). Geralmente é assim que os médiuns videntes as distinguem. Eles as veem ir e vir, entrar num apartamento ou sair, circular por entre a multidão com ares de quem participa, ao menos os Espíritos vulgares, de tudo o que se faz ao seu redor, de se interessarem por tudo e ouvirem o que diz. Muitas vezes se aproximam de uma pessoa para lhe assoprar ideias, influenciá-la, quando são Espíritos bons, zombar dela, quando são maus, mostrando-se tristes ou contentes com o que obtiveram. Em uma palavra, podemos dizer que são a contraparte do mundo corporal.

Esta figura pode dar uma ideia aproximada
da aparição de um Espírito,
conforme descrito acima.

É assim que o Espiritismo, servindo-se dos médiuns videntes, revelou o mundo dos Espíritos, uma das forças ativas da Natureza e, com o auxílio de médiuns videntes podemos estudar esse mundo invisível.

Porém, os Espíritos podem aparecer algumas vezes com todas as aparências de um corpo sólido, a ponto de dar uma ilusão perfeita e fazer crer que se trata de um ser corpóreo. Em outros casos, e dentro de certas circunstâncias, pode tornar-se sensível ao tato como se fosse  real, queremos dizer, que podemos tocar, palpar, sentir a resistência e o calor de um corpo vivo, o que não impede da aparição se esvanecer com a rapidez de um relâmpago. Nesses casos, já não é só pelos olhos que se verifica a presença, mas também pelo tato.

Poderíamos atribuir uma aparição simplesmente visual a uma ilusão ou a uma espécie de fascinação, mas a dúvida não é mais possível quando a podemos pegar, e quando ela mesma nos toca, ou nos abraça. Contudo, as aparições tangíveis são raras, se bem que nos últimos tempos houveram muito relatos dessas aparições tangíveis pela influência de alguns médiuns com faculdades especiais para esse tipo de manifestação espírita e inteiramente autenticadas por testemunhos irrecusáveis, provam e explicam os relatos históricos sobre as pessoas que reapareceram após a morte com todas as aparências da realidade. Sugerimos ler o caso Fenômenos de Aparição na coleção da Revista Espírita de Allan Kardec (2), Canais Ocultos da Mente de Louise Rhine, Histórias Fantásticas deste e do outro Mundo de Lúcia Loureiro, Escritores e Fantasmas de Jorge Rizzini, História do Espiritismo Arthur Conan Doyle entre outras obras.

Por mais extraordinários que sejam semelhantes fenômenos, perdem todo o caráter de maravilhoso quando se conhece a maneira pela qual se produzem e se compreende que, longe de representarem uma derrogação das leis naturais, apresentam apenas uma nova aplicação dessas leis.

Como dissemos, o perispírito é o princípio de todas as manifestações espíritas que por sua própria natureza, é invisível a nós no estado normal. Isso é comum para uma infinidade de fluidos que sabemos existirem, mas que não podem ser percebidos pela visão comum dos encarnados.

O perispírito, à semelhança de certos fluidos, pode por um ato de vontade do espírito passar por modificações que o tornem visível, seja por uma espécie de “condensação” (3) ou por uma mudança em suas disposições moleculares, e é então que nos aparece de maneira vaporosa. A “condensação” pode chegar ao ponto de dar ao perispírito as propriedades de um corpo sólido e tangível, mas que pode instantaneamente voltar ao seu estado etéreo e invisível. Deve-se notar que as aparições tangíveis não têm senão as aparências da matéria carnal, porém, não as suas qualidades; em razão de sua natureza fluídica, não podem ter a mesma coesão, porque, na realidade, não se trata de carne. (A Gênese, cap. XIV, item 36)

Podemos entender melhor esse processo se o compararmos com o vapor, que pode passar da invisibilidade a um estado brumoso (nuvem), depois ao líquido, a seguir ao sólido e vice-versa.

Os seres que se apresentam nestas condições são vistos, e depois não são vistos mais, sem saber de onde vieram, como vieram, nem onde vão. Assim são conhecidos como agêneres, com os quais podemos tratar, sem duvidar do que sejam, mas que jamais demoram por muito tempo. (A Gênese, cap. XIV, item 36) 

Esses diversos estados do perispírito, entretanto, resultam da VONTADE do Espírito e não de causas físicas exteriores, como acontece com os gases. O Espírito nos aparece quando deu ao seu perispírito a CONDIÇÃO NECESSÁRIA para se tornar visível. Mas a simples vontade NÃO BASTA para produzir esse efeito, porque a modificação do perispírito se verifica mediante a sua COMBINAÇÃO com o fluido específico de um médium. Ora, essa combinação NEM SEMPRE É POSSÍVEL, e isso explica porque a visibilidade dos Espíritos não é comum.

NÃO É SUFICIENTE que o Espírito queira aparecer, nem apenas que uma pessoa o queira ver: É NECESSÁRIO que os fluidos de AMBOS possam combinar-se, para o que tem de haver entre eles uma espécie de AFINIDADE. É necessário ainda que a emissão de fluido da pessoa seja ABUNDANTE para operar a transformação do perispírito, e provavelmente há outras condições que desconhecemos. Por fim, é preciso que o Espírito tenha a PERMISSÃO (4) de aparecer para aquela pessoa, coisa que nem sempre lhe é concedido, ou pelo menos não o é em certas circunstâncias.

Outra propriedade do perispírito é a penetrabilidade, inerente à sua natureza etérea. Nenhuma espécie de matéria lhe serve de obstáculo: ele atravessa a todas, como a luz atravessa os corpos transparentes. Não há, pois, meios de impedir a entrada dos Espíritos, que vão visitar o prisioneiro em sua cela com a mesma facilidade com que visitam um homem no meio do campo.

O perispírito é o mesmo, nos encarnados e nos desencarnados; por um efeito completamente idêntico, um espírito encarnado pode aparecer, num momento de liberdade, num outro ponto diferente daquele onde repousa seu corpo, com seus traços habituais e com todos os sinais de sua identidade.  (A Gênese, cap.XIV, item 37) Este fenômeno é conhecido como bicorporiedade.

Desta forma podemos fazer uma distinção entre as aparições: se forem de espíritos desencarnados são denominados agêneres e se forem de espíritos encarnados a ação é denominada bicorporiedade.

Um efeito particular a estas ordens de fenômenos, é que tanto as aparições vaporosas quanto as tangíveis não são percebidas por todas as pessoas; os espíritos só se mostram quando querem e somente a quem desejam aparecer, isto demonstra que esta percepção vem da vista espiritual e não da vista física, caso contrário ela seria vista por todas as pessoas indistintamente; pois não somente a vista espiritual não é dada a todos, mas também pode ser retirada pela vontade do espírito daquele a quem não quer se mostrar, como também pode dá-la momentaneamente a alguém se assim achar necessário. (A Gênese, cap. XIV, item 38) 

NOTAS:

(1) Para entender isso no esquema é necessário considerar que o espelho em questão é um espelho sem aço e que imagens além do espelho passeiam pelo campo onde a própria imagem se forma. Tal elemento vale a pena acentuar, porque ao dizermos espelho, podemos supor que ele não deixa ver nada da realidade, mas é mais conforme a lógica do modelo que o pensemos como uma superfície vítrea, que reflete como o vidro de uma janela. (http://gymno.sites.uol.com.br/Esquemaoptico.htm)

(2) Comentaremos aqui um caso de aparição que se encontra na Revista Espírita de outubro de 1858 intitulado Fenômenos de Aparição.

Kardec conta a história narrada em jornais dos Estados Unidos, de uma família espiritualista, mas cuja irmã da Sra. Park não acreditava no espiritismo. Repentinamente a Sra. Park adoece e diz a sua irmã que iria morrer em uma hora, e que ela não seguisse o cortejo fúnebre porque ela iria lhe aparecer mais uma vez, para que se convencesse da realidade espiritual.

A irmã obedeceu e aguardou sozinha em casa e assim descreveu a aparição:

"Cinco minutos apenas eram decorridos, - contou mais tarde a senhorita Harris, - quando eu vi como uma nuvem branca se destacar no fundo do apartamento. Pouco a pouco essa forma se desenhou melhor: era a de uma mulher semi-velada; ela se aproximou lentamente de mim; eu distinguia o ruído de passos leves sobre o soalho; enfim, meus olhos espantados se encontraram em presença de minha irmã...

"Seu rosto, longe de ter essa palidez sem brilho que impressiona tão penosamente nos mortos, estava radioso; suas mãos, as quais logo senti a pressão sobre as minhas, tinham conservado todo o calor da vida. Fui como transportada para uma esfera nova por essa maravilhosa aparição. Crendo já fazer parte do mundo dos Espíritos, tateei o peito e a cabeça para me assegurar da minha existência; mas não havia nada de penoso nesse êxtase.

"Depois de estar assim diante de mim, sorridente mas muda, pelo espaço de alguns minutos, minha irmã, parecendo fazer um violento esforço, me disse com uma voz doce:

"É tempo de partir: meu anjo condutor me espera. Adeus! Cumpri minha promessa. Crê e espera!"

(3) É necessário não tomar ao pé da letra a palavra condensação, pois só está empregada aqui por falta de outra e como simples recurso de comparação.

(4) Os Espíritos obedecem naturalmente a uma ascendência moral irresistível. (ver resposta à q. 274 de O Livro dos Espíritos.) Vale dizer, também, que o(s) motivo(s) dessa permissão ainda não é na sua totalidade justamente apreciável por nós (encarnados).

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