sábado, 24 de março de 2012

ALMA, ESPÍRITO E PERISPÍRITO


                      
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 ALMA, ESPÍRITO E PERISPÍRITO (1)
 Estudo com base in O LIVRO DOS ESPÍRITOS
qs. 23, 27, 76, 134, 134a,135a e 257
Obra codificada por Allan Kardec
(Outras obras citadas no textos)

Pesquisa: Elio Mollo



Houve um grande esforço do codificador desde a Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, no O Livro dos Espíritos, para explicar o significado da palavra ALMA em relação a Doutrina Espírita, quanto a isso, assim diz ele:  "...outra palavra sobre a qual igualmente devemos entender-nos porque é uma das chaves de toda doutrina moral e tem suscitado numerosas controvérsias por falta de uma acepção bem determinada: é a palavra alma."
                                                                                  
Neste mesmo capítulo da introdução de LE,  que trata da Alma, Princípio Vital e Fluido Vital, Kardec diz ser dever insistir o tanto que for necessário para explicar o real significado da  palavra ALMA, informando que "poder-se-ia, assim dizer, e talvez fosse o melhor,

·  a alma vital - indicando o princípio da vida material; (Ver qq. de 60 em diante de LE) (*)
·  a alma intelectual - o princípio da inteligência, e (ver q. 23 de LE)
·  a alma espírita - o da nossa individualidade após a morte. (ver q. 76 de LE)

Como se vê, tudo isto não passa de uma questão de palavras, mas questão muito importante quando se trata de nos fazermos entendidos. De conformidade com essa maneira de falar,

·  a alma vital seria comum a todos os seres orgânicos: plantas, animais e homens; (Ver qq. de 60 em diante de LE)
·  a alma intelectual pertenceria aos animais e aos homens; e (ver q. 23 de LE) (1)
·  a alma espírita somente ao homem. " (ver q. 76 de LE)

(*) O princípio vital é a força motriz dos corpos orgânicos. (Allan Kardec in nota a q. 67 de LE)

Por isso, é necessário procurar entender o que significa a ALMA na sua essência e de acordo com a Doutrina Espírita. Comecemos, então, pelas respostas que  os Espíritos deram as resposta às q. 23, 27 e 76 de LE.

23. Que é o espírito?
-- O princípio inteligente do Universo.

Na resposta à questão 27 os Espíritos afirmam que "existem dois elementos gerais no Universo a matéria e o espírito" (princípio inteligente, espírito elementar ou alma).

Logo na primeira vista podemos perceber que nas duas perguntas, a palavra espírito, como geralmente e encontrada ao longo das obras básicas, nesta pergunta, a letra "e" da palavra espírito esta escrita em letra minúscula e não em maiúscula. Para entendermos do porquê disso, vamos primeiro ver o que diz Kardec na obra O Que é o Espiritismo, cap. II, Dos Espíritos, em nota ao item  14:

·  A alma é, assim, um ser simples; (q. 23 de LE)
·  o Espírito um ser duplo e (q. 76 de LE)
·  o homem um ser triplo. (Kardec em nota a q. 135 de LE) (2)

Em dois artigos da  Revista Espírita de maio de 1864 e janeiro de 1866, encontramos informações semelhantes:

Continuando na nota de Kardec ele diz que "Seria portanto mais exato reservar a palavra alma para designar o princípio inteligente, e a palavra Espírito para o ser semimaterial formado desse princípio e do corpo fluídico. Mas como não se pode conceber o princípio inteligente sem ligação material, as palavras alma e Espírito são, no uso comum, indiferentemente empregadas uma pela outra; é a figura que consiste em tomar a parte pelo todo, da mesma forma que se diz que uma cidade é habitada por tantas almas, uma vila composta de tantas casas; porém, FILOSOFICAMENTE É ESSENCIAL FAZER-SE A DIFERENÇA."

Para fazermos essa diferença, é necessário, analisarmos a resposta à q. 76 de LE e depois as perguntas e respostas das questões 134a e 149 de LE:

76. Como podemos definir os Espíritos?
-- Podemos dizer que os Espíritos são os seres inteligentes da Criação. Eles povoam o Universo, além do mundo material.

Atentemos também para a nota de Kardec dada para essa resposta dos Espíritos: "A palavra Espírito é aqui empregada para designar os seres extra-corpóreos e não mais o elemento inteligente Universal."

Aqui se trata do ser duplo, ou seja, de um ser composto de alma ou princípio inteligente com perispírito (3). Esses seres povoam o mundo dos Espíritos, ALÉM, do mundo material.

Agora para perceber como em sua sensatez Kardec fazia a diferença entre a Alma ou Princípio Inteligente e Espírito vamos atentar para as perguntas 134a e 149 de LE e suas consecutivas respostas:

134-a. O que era a alma, antes de unir-se ao corpo?
-- Espírito.

149. Em que se transforma a alma no instante da morte?
-- Volta a ser Espírito, ou seja, retorna ao mundo dos Espíritos, que ela havia deixado temporariamente.

Acredito que agora fica mais fácil entender a pergunta e a resposta da q. 134 de LE:

134. O que é a alma?
-- Um Espírito encarnado.

Não?!

Então, atentemos, porque este capitulo II, do livro segundo de LE trata da ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS, ou dos seres que povoam o Universo além do Mundo material e não do princípio inteligente, como trata a resposta da q. 23 de LE.

Sendo assim, a alma do CORPO FÍSICO é composta de um Espírito encarnado, ou seja, de um princípio inteligente com o seu corpo perispiritual, e assim podemos entender da essencialidade de FILOSOFICAMENTE FAZER-SE A DIFERENÇA.

Vejamos ainda o item 13 da obra O Que é o Espiritismo, cap. II, Dos Espíritos, para percebermos melhor essa diferença:

·  A união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o homem; (Kardec em nota a q. 135 de LE)
·  a alma e o perispírito separados do corpo constituem o ser chamado Espírito. (q. 76 de LE)

Em refutação aos que acusavam o Espiritismo de materializar a alma dando-lhe um corpo semimaterial, o codificador do espiritismo afirma, em boa lógica e sensatamente na Revista Espírita de dezembro 1862, Causas da Obsessão e meios de Combate:

"Agora outro parêntese para responder a uma objeção oposta por alguns à teoria dada pelo Espiritismo do estado da alma. Acusam-no de materializar a alma, ao passo que, conforme à religião, a alma é puramente imaterial. Como a maior parte das outras, esta objeção provém de um estudo incompleto e superficial. O Espiritismo jamais definiu a natureza da alma, que escapa às nossas investigações. Não diz que o perispírito constitua a alma: o vocábulo perispírito diz positivamente o contrário, pois especifica um envoltório em torno do Espírito. Que diz a respeito o Livro dos Espíritos? “Há no homem três coisas: a alma, ou espírito, princípio inteligente; o corpo, envoltório material; o perispírito, envoltório fluídico semi-material, servindo de laço entre o Espírito e o Corpo.” E porque, com a morte do corpo, a alma conserva o envoltório fluídico, não está dito que tal envoltório e a alma sejam uma só e mesma coisa, pois que o corpo não é único com a roupa ou alma não é una com o corpo. A Doutrina Espírita nada tira à imaterialidade da alma. Apenas lhe dá dois invólucros, em vez de um, durante a vida corpórea e só um após a morte do corpo, o que é, não uma hipótese, mas um resultado da observação. E é com o auxílio desse envoltório que melhor se compreende a sua individualidade e melhor se explica a sua ação sobre a matéria."

E na Revista Espírita de Junho  1863, Algumas Refutações, (2º. artigo), continua no mesmo diapasão:

"O Espiritismo é acusado, por alguns, de estar fundado sobre o mais grosseiro materialismo, porque admite o perispírito, que tem propriedades materiais. É ainda uma falsa conseqüência tirada de um princípio incompletamente informado. JAMAIS o Espiritismo confundiu a ALMA com o PERISPÍRITO, que não é senão um envoltório, como o corpo dele é um outro. Tivesse ela dez envoltórios, isso não tiraria nada à sua essência imaterial."

Concluindo sobre a necessidade de se fazer a diferença sugerida por Kardec entre Alma e Espírito, prestemos atenção a este dizer do Espírito Lamennais encontrada no item 51 de O Livro dos Médiuns: "...Para progredir, a alma necessita sempre de um instrumento, sem o qual ela não seria nada...". Perceberam o uso da palavra ALMA, pois é, trata-se do princípio inteligente conforme a resposta a q. 23 de LE ou do espírito elementar fazendo abstração absoluta do perispírito.

Ainda nesse item de LM, o Espírito Lamennais diz: "Vós pesquisais o perispírito, e nos atualmente, pesquisamos a alma. Esperai, pois". Podemos dizer que esse tempo do esperais pois, chegou, depois de tantos estudos sobre o períspirito, ou seja, de falar do Espírito, o ser duplo, chegou o momento de estudarmos para conhecer melhor a Alma ou Princípio Inteligente ou espírito elementar ou ainda do espírito considerado em si mesmo e feita total abstração do seu perispírito ou invólucro semi-material.

NOTAS:

(1)   Ver outros estudos relacionados a este tema:

(2) A verdadeira vida, tanto do animal quanto a do homem, não mais está no envoltório corporal como não estaria numa veste; ela está no princípio inteligente que pré-existe e sobrevive ao corpo. (Allan Kardec in A Gênese, cap. III, item 21) 

(3) O perispírito é o laço que à matéria do corpo prende o Espírito, que o tira do meio ambiente, do fluido universal. Contém ao mesmo tempo da eletricidade, do fluido magnético e, até certo ponto, da matéria inerte. Poder-se-ia dizer que é a quintessência da matéria. É o princípio da vida orgânica, porém, não o da vida intelectual, que reside no Espírito. É, além disso, o agente das sensações exteriores. No corpo, os órgãos, servindo-lhes de condutos, localizam essas sensações. Destruído o corpo, elas se tornam gerais. (Allan Kardec no item 257 de O Livro dos Espíritos, Ensaio Teórico sobre a sensação nos Espíritos.

Informação semelhante pode ser encontrada na Revista Espírita de dezembro de 1858, Sensações dos Espíritos:

O perispírito é o laço que une o Espírito à matéria do corpo; é tirado do meio ambiente, do fluido universal; tem, simultaneamente, algo da eletricidade, do fluido magnético e, até certo ponto, da matéria inerte. Poder-se-ia dizer que é a quintessência da matéria: é o princípio da vida orgânica, mas não o é da vida intelectual. A vida intelectual está no Espírito. É além disso, o agente das sensações exteriores. No corpo estas sensações estão localizadas em órgãos que lhe servem de canal. Destruído o corpo, as sensações tornam-se gerais.

Ainda vale esta outra informação que pode ser encontrada na Revista Espírita de maio de 1858, onde se destaca a diferença entre ALMA e Espírito no uso do Períspirito:

...a alma não deixa tudo na sepultura e que leva alguma coisa consigo.

Haveria, assim, em nós,
duas espécies de matéria: uma grosseira, que constitui o envoltório exterior, outra sutil e indestrutível. A morte é a destruição, ou melhor, a desagregação da primeira, da que a alma abandona; a outra se libera e segue a alma que continua, desse modo, tendo sempre um envoltório; é o que chamamos perispírito. Essa matéria sutil, extraída, por assim dizer, de todas as partes do corpo ao qual estava ligada durante a vida, dele conserva a impressão; ora, eis por que os Espíritos se vêem e por que nos aparecem tais quais eram quando vivos. Mas essa matéria sutil não tem a tenacidade, nem a rigidez da matéria compacta do corpo; ela é, se assim podemos nos expressar, flexível e expansível; por isso a forma que toma, se bem que calcada sobre a do corpo, não é absoluta; ela se dobra à vontade do Espírito, que pode dar-lhe tal ou tal aparência, à sua vontade, ao passo que o envoltório sólido oferece-lhe uma resistência intransponível; desembaraçado desse entrave que o comprimia, o perispírito se estende ou se retrai, se transforma, em uma palavra, se presta a todas as metamorfoses, segundo a vontade que age sobre ele.

Ver outros estudos relacionados ao tema perispírito:

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